segunda-feira, 11 de março de 2013


Considerações e Formulações Acerca da Obra:

Extensão ou Comunicação? de Paulo Freire

1° Parte
Sobre o Termo Extensão

            Em Extensão ou Comunicação?, Freire nos apresenta um exemplo concreto de uma situação opressor-oprimido. Ao longo deste artigo, veremos que essa é uma situação que envolve quase, senão todas as relações humanas. Em sua obra mais conhecida A Pedagogia do Oprimido, Freire expôs sua Teoria Dialógica da Ação, e foi onde nos mostrou, de forma mais objetiva, como se dá essa situação, denunciou a educação bancária e propôs ideias que podem ajudar o homem a sair dessa situação, de modo que os pólos opressor-oprimido não apenas se invertam, a tentativa visa erradicar essa relação antagônica. Como foi dito acima, em Extensão ou Comunicação?, Freire dá o exemplo concreto desta situação ao tratar sobre o trabalho do agrônomo-educador, também chamado extensionista, e enfatiza mais uma vez que, só se sai dessa situação através de um dialogo problematizante, dialogo este, que tem o intuito de despertar uma consciência critica da realidade.


Por que Debater Sobre a Extensão?

   O trabalho do agrônomo-educador, que se dá no domínio do humano, envolve um problema filosófico que não pode ser desconhecido nem tampouco minimizado.
    A reflexão filosófica se impõe neste, como em outros casos. Não é possível eludí-la, já que o que a Extensão pretende, basicamente, é substituir uma forma de conhecimento por outra. E basta que estejam em jogo formas de conhecimento para que não se possa deixar de lado uma reflexão filosófica. (Freire, p 26/27)
            
           No termo extensão, encontramos o sentido de levar algo à, estender algo, nessa concepção, o ato de educar adquire uma conotação mecanicista, nesse sentido o trabalho do extensionista rural é uma educação-bancaria, aquela que vê o educando como uma jarro vazio onde se pode depositar os conhecimentos de outrem.
            O termo extensão não corresponde a um quefazer libertador, que é o dever do extensionista. Pela sua significação de estender algo, o termo nega o papel transformador da realidade. Quando explanamos o conceito do termo extensão, torna-se contraditório dizer que o trabalho do extensionista é persuadir a população rural a aceitar sua propaganda. Se um extensionista chega à uma população rural, tentando persuadir os camponeses a aceitarem a sua propaganda, o que o extensionista faz é negar que o homem rural tem a capacidade de formular conhecimentos próprios.
            Esta obra de Freire não se trata apenas de uma crítica ao trabalho do agrônomo educador, trata-se de uma tentativa de despertar uma consciência critica nos estensionistas, para que possam atuar de forma eficaz, despertando também a consciência critica do homem rural, partindo de sua própria realidade.
            Freire esta expondo uma contradição: persuadir – educar. Não é possível aceitar que a imposição de uma propaganda, de uma visão de mundo por meio da persuasão seja uma forma de educar. Educação só é verdadeira quando encarna a busca do ser mais. A persuasão nega a formação de um conhecimento autentico.
            Persuadir o camponês a aceitar a propaganda de seus aparatos e técnicas é uma forma de domesticação, a propaganda é um instrumento de domesticação, independente de seu conteúdo, a persuasão irá tomar o homem rural como objeto da propaganda.
            O termo extensão sugere algo dinâmico, mas para Freire o que temos aqui é um equivoco; ela propõe uma dinâmica, mas se o que ela faz é somente estender algo, aquele que sofreu a extensão ira receber apenas um conteúdo estático, nada de dinâmico. Essa forma estática surge da ingenuidade dos homens acharem que o conhecimento do mundo é algo que possa ser transferido, estendido ou depositado.
            Ora, o mundo está em constante transformação, só por este fato, o conhecimento dele não pode ser algo estático e imutável, igual para todos, “a confrontação com o mundo é a fonte verdadeira do conhecimento.” (Freire, p.27)
Pelo mundo ser algo sempre em transformação, isso requer, naturalmente, uma busca constante.
            O termo extensão separa o homem do mundo. Formula-se uma visao de realidade e tenta-se a imposição dessa visão sobre o homem. Um grande erro, pois não se separa homem-mundo, não existe o mundo sem o homem e vice-versa, “o homem se encontra marcado pelos resultados de sua própria ação.” (Freire, p.28)
            O que a extensão faz, é mostrar uma presença nova naquela realidade, a presença dos conteúdos estendidos. Ela toma o homem como objeto, transformado em objeto, o homem não conhece, ele só conhece quando passa a atuar como o sujeito que indaga, o homem precisa entender que atua no mundo, e é esta atuação que transforma a sua realidade.
            O que Freire tenta, é tirar a extensão do campo da doxa, nesse sentido ele entende que a extensão traz um conhecimento que é mostrado para o homem rural. Desta forma o homem capta a presença das coisas, exercendo sobre elas a mera opinião. Apenas por esse captar, não é possível um aprofundamento do conhecimento, adentrar o conhecimento é ter uma percepção critica sobre as coisas



[i]Freire, P; Extensão ou Comunicação?. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 93p. 

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