segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pontos de destaque na “Introdução”

§ 2: A história de um assunto está ligada à concepção que se tenha desse assunto. Sendo assim, a história da filosofia está ligada à concepção de filosofia. Desse modo se estabelecem critérios de uma história.
§ 3: Problemas com as histórias da filosofia – apresentam diferentes concepções de seu conteúdo e função. Sem um conceito genuíno não se fará história da filosofia, não haverá compreensão filosófica.
Compreensão filosófica (especulação/conceito) # Captação do sentido gramatical dos termos (descrição/semântica)
§ 5: Objetivo do texto: definir o objeto da história da filosofia, ou seja, o que pode ser considerado filosofia em qualquer tempo e espaço.
Peculiaridade da história da filosofia: o conceito de filosofia é resultado da investigação histórica da própria filosofia [essa é uma aparente contradição, pois na perspectiva hegeliana o conhecimento (e sua definição) surge na própria história]

§ 6: A “Introdução” foca o conceito de filosofia e seu objeto, não como princípios arbitrários, mas como princípio que será justificado no decorrer da exposição. A fixação preliminar dos pressupostos visa desembaraçar a exposição.

Pontos de destaque no “Discurso Inaugural”

§ 3: O espírito do mundo volta a se ocupar da ciência, i. e. da filosofia de maneira livre e racional, após se envolver na realidade física (questões cotidianas e políticas). Isso sobretudo na Alemanha [contexto histórico do texto: queda de Napoleão, processo de restauração]
§ 4: Alemanha como guardiã da filosofia
§ 7: Filosofia – tarefa de contemplação e compreensão do vero, eterno, divino

§ 10: “A essência do universo, a princípio oculta e encerrada, não dispõe de força capaz de resistir à tentativa de quem pretenda conhecê-la; acaba sempre por se desnudar e patentear a sua riqueza e peculiaridade, para o homem que dela desfrute”. O homem como espírito é capaz de conhecer a essência do mundo

Síntese da Parte B: Relação da filosofia com as outras partes do que se pode saber


·         A sociedade, forma política, arte, religião etc e a filosofia não estão em uma relação de mútua influência. São antes formas distintas de um único espírito do tempo (i.e. de um modo de ser).
“É sempre um determinado modo de ser, um determinado caráter, que invade todas as diversas partes e se manifesta tanto nas formas políticas com nas demais formas culturais, fundindo num todo as várias partes; e estas, por sua vez, não contêm coisa alguma de heterogêneo à condição fundamental dele, pois que podem aparecer diversas e acidentais, embora se afigure que muitas delas se contradizem mutuamente. [...]. Enquanto a filosofia está no espírito do seu tempo, este é o seu conteúdo determinado; mas, simultaneamente, como saber, pelo fato de o ter situado em frente de si (como problema), já o ultrapassou; mas este progresso limita-se à forma, visto que na realidade não possui outro conteúdo” (p. 418/362[1])
·         Condições externas e históricas necessárias ao filosofar: ausência das necessidades da vida e apaziguamento das paixões.
·         A filosofia surge na cultura quando o espírito alcançou um certo grau de autoconsciência. A filosofia, fundamento da cultura, é sincrônica à formação particular de um povo. Ela é “o conceito do espírito na sua totalidade, a consciência e essência espiritual de todo o conjunto, o espírito do tempo como espírito presente e que se pensa a si próprio” (p. 418/361, grifo nosso). A filosofia está, simultaneamente, no espírito do seu tempo (como conteúdo determinado) e o ultrapassa (como forma) como saber pelo fato de problematizar, como em frente a si, o próprio espírito do tempo.

·         Filosofia e conhecimento científico
Semelhança: o Eu, o pensamento próprio, contraposto à autoridade [i.e. um certo modo autônomo, objetivo e racional de lidar com o conhecimento]
Diferença: a ciência tem por fim objetos finitos e fenômenos; a filosofia, ainda que trate de coisas finitas, às trata do ponto de vista do infinito.

·         Filosofia e religião
Semelhança: o objeto infinito (conteúdos universais, a razão existente em si e por si)
Diferença: a forma assumida pelo conteúdo. Na filosofia volta-se ao objeto na forma de consciência pensante, na religião, como percepção exterior, afetiva, representativa.
“Mas a forma, pela qual o conteúdo universal em si mesmo e por si mesmo pertence acima de tudo à filosofia, é a forma do pensamento, que é a forma universal. Pelo contrário, na religião tal conteúdo é dado por meio da arte, da percepção exterior imediata, não menos que pela representação e pelo sentimento. O seu valor intrínseco reside todo no elemento sensível afetivo, que é a presença do espírito no ato de compreender este conteúdo. [...]. A religião tem, por conseguinte, um conteúdo comum com a filosofia, só as formas são diversas: importa somente que a forma do conceito alcance uma perfeição tal que seja capaz de apreender o conteúdo da religião” (p. 426/370; 434/376-377, grifo nosso)
·         Ciência e religião são afins da filosofia mas não cabem numa história da filosofia. Porque:
a)      a ciência, como momento formal objetivo, visa compreender o finito, não o conteúdo infinito; ainda que seja pensamento autônomo fundado no Eu.
b)      a religião tem em comum com a filosofia o conteúdo (o objeto infinito), mas apenas como elemento subjetivo; o pensamento constitui-se em forma figurativa  
Sendo assim, a filosofia exige a unidade e compenetração dos aspectos formal e de conteúdo, ou seja, dos momentos objetivo e subjetivo.
·         Portanto:
1)      Filosofia # da ciência, da religião, da filosofia popular (cujo fundamento é a natureza, o sentimento, e não pensamento), da filosofia encontrada nas religiões (ex: patrística, escolástica, “filosofias orientais”. Cf. p. 439/381-382)
2)      Filosofia = pensamento concreto, universal, o ser em sua totalidade. O princípio da filosofia é a apreensão da ideia do absoluto “quando o pensamento reconhece o ser como essência das coisas, como totalidade absoluta e a essência imanente do todo” (p. 441/384)

·         A condição inicial para a filosofia é a consciência da liberdade. Há um nexo entre liberdade política e liberdade de pensamento.  O indivíduo se reconhece enquanto indivíduo e se coloca diante de algo universal. Devido esse nexo a filosofia manifesta-se historicamente onde há constituições livres. Portanto, a filosofia começa só com o mundo grego.
·         A filosofia separa-se do Oriente. No mundo oriental o espírito surge mas não como liberdade subjetiva, o sujeito não existe como pessoa, “[...] tudo é apenas ordem natural, que deixa subsistir junto do mal mais desprezível a mais elevada nobreza” (p. 444/386). Só o déspota é livre. “A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência, desaparece a consciência natural e o espírito desce dentro de si próprio. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo” (p. 444/386-387)



[1] A primeira numeração refere-se à paginação da do texto de Hegel na coleção Os pensadores do ano 2000, a segunda numeração refere-se à versão em pdf.