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A sociedade, forma política, arte,
religião etc e a filosofia não estão em uma relação de mútua influência. São
antes formas distintas de um único espírito do tempo (i.e. de um modo de ser).
“É sempre um
determinado modo de ser, um determinado caráter, que invade todas as diversas
partes e se manifesta tanto nas formas políticas com nas demais formas
culturais, fundindo num todo as várias partes; e estas, por sua vez, não contêm
coisa alguma de heterogêneo à condição fundamental dele, pois que podem
aparecer diversas e acidentais, embora se afigure que muitas delas se
contradizem mutuamente. [...]. Enquanto a filosofia está no espírito do seu
tempo, este é o seu conteúdo determinado; mas, simultaneamente, como saber,
pelo fato de o ter situado em frente de si (como problema), já o ultrapassou;
mas este progresso limita-se à forma, visto que na realidade não possui outro
conteúdo” (p. 418/362)
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Condições externas e históricas
necessárias ao filosofar: ausência das necessidades da vida e apaziguamento das
paixões.
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A filosofia
surge na cultura quando o espírito alcançou um certo grau de autoconsciência. A
filosofia, fundamento da cultura, é sincrônica à formação particular de um
povo. Ela é “o conceito do espírito na
sua totalidade, a consciência e essência espiritual de todo o conjunto, o
espírito do tempo como espírito presente e que se pensa a si próprio” (p.
418/361, grifo nosso). A filosofia está, simultaneamente, no espírito do seu
tempo (como conteúdo determinado) e o
ultrapassa (como forma) como saber
pelo fato de problematizar, como em frente a si, o próprio espírito do tempo.
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Filosofia
e conhecimento científico
Semelhança:
o Eu, o pensamento próprio,
contraposto à autoridade [i.e. um certo modo autônomo, objetivo e racional de
lidar com o conhecimento]
Diferença:
a ciência tem por fim objetos finitos e fenômenos; a filosofia, ainda que trate
de coisas finitas, às trata do ponto de vista do infinito.
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Filosofia
e religião
Semelhança:
o objeto infinito (conteúdos universais, a razão existente em si e por si)
Diferença:
a forma assumida pelo conteúdo. Na
filosofia volta-se ao objeto na forma de consciência pensante, na religião,
como percepção exterior, afetiva, representativa.
“Mas a forma, pela qual
o conteúdo universal em si mesmo e por si mesmo pertence acima de tudo à
filosofia, é a forma do pensamento, que é a forma universal. Pelo contrário, na
religião tal conteúdo é dado por meio da arte, da percepção exterior imediata,
não menos que pela representação e pelo sentimento. O seu valor intrínseco
reside todo no elemento sensível afetivo, que é a presença do espírito no ato
de compreender este conteúdo. [...]. A religião tem, por conseguinte, um
conteúdo comum com a filosofia, só as formas são diversas: importa somente
que a forma do conceito alcance uma perfeição tal que seja capaz de apreender o
conteúdo da religião” (p. 426/370; 434/376-377, grifo nosso)
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Ciência
e religião são afins da filosofia
mas não cabem numa história da filosofia. Porque:
a) a
ciência, como momento formal
objetivo, visa compreender o finito, não o conteúdo infinito; ainda que seja
pensamento autônomo fundado no Eu.
b) a
religião tem em comum com a filosofia
o conteúdo (o objeto infinito), mas apenas como elemento subjetivo; o
pensamento constitui-se em forma figurativa
Sendo
assim, a filosofia exige a unidade e compenetração dos aspectos formal e de
conteúdo, ou seja, dos momentos objetivo e subjetivo.
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Portanto:
1) Filosofia
# da ciência, da religião, da filosofia popular (cujo fundamento é a natureza,
o sentimento, e não pensamento), da filosofia encontrada nas religiões (ex:
patrística, escolástica, “filosofias orientais”. Cf. p. 439/381-382)
2) Filosofia
= pensamento concreto, universal, o ser em sua totalidade. O princípio da
filosofia é a apreensão da ideia do absoluto “quando o pensamento
reconhece o ser como essência das coisas, como totalidade absoluta e a essência
imanente do todo” (p. 441/384)
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A condição inicial para a filosofia
é a consciência da liberdade. Há um nexo entre liberdade
política e liberdade de pensamento. O
indivíduo se reconhece enquanto indivíduo e se coloca diante de algo universal.
Devido esse nexo a filosofia manifesta-se historicamente onde há constituições
livres. Portanto, a filosofia começa só com o mundo grego.
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A
filosofia separa-se do Oriente. No mundo oriental o
espírito surge mas não como liberdade subjetiva, o sujeito não existe como
pessoa, “[...] tudo é apenas ordem natural, que deixa subsistir junto do mal
mais desprezível a mais elevada nobreza” (p. 444/386). Só o déspota é livre. “A
genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a
liberdade da autoconsciência, desaparece a consciência natural e o espírito
desce dentro de si próprio. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só
no Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria,
criando por si o seu mundo” (p. 444/386-387)