sábado, 31 de maio de 2014

Pontos em destaque na Parte A: Conceito da História da Filosofia

     * Pressupostos (p. 394/340[1]):
  1)  Conceito de Filosofia: “tem a tarefa de captar, pensando e compreendendo, a verdade”, não uma verdade finita e mutável, mas uma verdade absoluta que se expressa na história.
  2) História da Filosofia: deve ocupar-se com a própria filosofia, “[...] a história da filosofia [não] foi excogitada arbitrariamente por indivíduos singulares de maneiras diferentes umas das outras, mas há um nexo essencial no movimento do espírito pensante, onde domina a razão”.

Definição de filosofia:
“A filosofia é a ciência objetiva da verdade, é a ciência da sua necessidade: é conhecer por conceitos, não é opinar nem deduzir uma opinião de outra” (p. 390/336).
Sendo assim:
  1) Filosofia (ideia universal, objetiva) # Opinião (representação subjetiva)
 2) História da Filosofia # Coleção de “opiniões filosóficas” acompanhada da investigação de como se formaram e se desenvolveram
“Uma história assim redigida, que não passe de pura enumeração de opiniões, não constitui senão um objeto de inútil curiosidade ou, quando muito, de investigação erudita, uma vez que a erudição consiste em saber quantidade de coisas inúteis desprovidas de interesse intrínseco, a não ser o interesse de serem conhecidas. Defendemos, por outro lado, que não é destituído de toda utilidade o aplicar-se a conhecer as opiniões e pensamentos alheios, na medida em que este exercício estimula a energia da mente, sugere alguma boa ideia, e do choque das várias opiniões faz nascer uma nova opinião: pois que a ciência consistiria precisamente neste evoluir duma opinião para outra” (p. 390/336).

Considera-se a diversidade de filosofias como prova da impossibilidade da verdade e da própria filosofia. Para Hegel, entretanto, esse modo de pensar é abstrato por contrapor de forma simples verdade e erro. Pois:
a)      as diversas filosofias têm algo em comum: são filosofias
b)      a diversidade de filosofias é necessária e essencial à própria filosofia

*  A filosofia tem como fim a verdade e a verdade encontra-se na ideia. “[...] a ideia... é o pensamento na sua totalidade e na sua determinação em si e por si. A ideia é a verdade e unicamente a verdade; ora, é essencial à natureza da verdade o desenvolver-se e chegar à compreensão de si própria, e só através do desenvolvimento torna-se aquilo que é” (p. 395/341). A filosofia, assim, deve ser compreendida como o desenvolvimento do concreto. Mas o que é “desenvolvimento” e o que é “concreto”?
Desenvolvimento:                       
* Definição: o desenvolvimento se faz na dialética do ser em si (potência, capacidade, disposição) e ser por si (atualidade, ato). “Todo o conhecimento e cultura, a ciência e a própria ação não visam a outro escopo senão a exprimir de si o que é em si, e deste modo a se converter em objeto para si mesmo” (p. 396/342).
Concreto:
* Definição: 1) o concreto é a unidade dos momentos do desenvolvimento (o ser em si e ser por si); 2) o concreto é o em si, aquilo que começa o desenvolvimento; 3) o concreto é o produto final do desenvolvimento. Portanto, o concreto é simples e diverso ao mesmo tempo, e se relaciona aos momentos dialéticos. “Esta interna contradição, que é precisamente o que provoca o desenvolvimento, leva as diferenças à existência” (p. 398/343)

A filosofia não é abstração vazia. Seu conteúdo é abstrato apenas na forma, já que a ideia (seu conteúdo próprio) é essencialmente concreta, pois é a unidade de múltiplas determinações. Para compreender isso é preciso distinguir:
Pensar do intelecto/entendimento = pensar abstrato = não união de uma coisa e o seu diferente (próprio da ciência)
Pensar da razão = pensar concreto = unidade de determinações distintas (própria da filosofia)
Comentário: Para Hegel, a divisão/distinção (operação por excelência do intelecto/entendimento) é algo abstrato, ou se quisermos, artificial, pois a realidade é uma totalidade.  E essa totalidade só pode ser apreendida por uma atividade unificadora da razão que articule algo e o seu contrário.

 * Conclusões retiradas por Hegel:
1)  A história da filosofia, assim como a filosofia, é sistema em desenvolvimento. A filosofia representa a necessidade das determinações da ideia. A história da filosofia mostra esse desenvolvimento da ideia no tempo, i.e., de forma empírica num dado lugar e sob determinadas condições políticas.
2)   A sucessão dos sistemas de filosofia na história é igual à sucessão lógica das determinações conceptuais da ideia, ainda que haja diferenças [Sistema e História se identificam]
3)     O estudo da história da filosofia é estudo da própria filosofia

Observação fundamental: Hegel, ao falar do desenvolvimento da filosofia, fala do ponto de vista do espírito universal e pressupõe uma organização racional do mundo. Cf. os tópicos “O desenvolvimento das várias filosofias no tempo” e “Aplicação das considerações precedentes à história da filosofia”





[1] A primeira numeração refere-se à paginação da do texto de Hegel na coleção Os pensadores do ano 2000, a segunda numeração refere-se à versão em pdf.

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